CELSO SUCKOW DA FONSECA
Nasceu em 27 de julho de 1905, no Rio de janeiro. Filho do engenheiro Luís Carlos da Fonseca e Gilcka Suckow da Fonseca. Casou com Fani Bulhões de Carvalho da Fonseca.
Morreu em Detroit, Estados Unidos, em 26 de outubro de 1966.
Concluiu o Curso de Engenharia em 1927, na antiga Escola Politécnica do Rio de Janeiro.
Fez o Curso Superior de Locomoções do Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional de São Paulo, em 1939. Nesse mesmo ano, diplomou-se no Curso da Escola Superior de Guerra, tendo sua atenção voltada para a formação de mão-de-obra qualificada. Formou-se em Administração de Escolas Técnicas, no S~ College, Pensilvânia, Estados Unidos, em 1947-1948.
Sua carreira de engenheiro fundiu-se à de educador e historiador do ensino profissional e Técnico no Brasil. Amou como engenheiro da Fseah de Ferro Central do Brasil (EFCB) durante trinta e cinco anos, ocupando postos de carreira e exercendo a chefia de vários departamentos (posto mais elevado na Estrada), inclusive o de Ensino e Seleção, no exercício do qual organizou, instalou e pôs em funcionamento dez escolas profissionais, situadas nas cidades de Barra do Piraí, Três Rios, Santos Dumont, Lafaiete, Belo Horizonte, Sete Lagoas,Corinto, Cachoeira Paulista, Governador Valadares e Valença. Vice-Presidente por duas vezes da Associação de Engenheiros da EFCB e Presidente do Hospital Central dos Ferroviários, que ajudou a fundar, em 1956, foi comIssionado também pela EFCB para fiscalizar a fabricação, na Europa, de trilhos e acessorios de linha.
Foi professor por concurso de provas e títulos da Cadeira de Desenho Técnico, da Escola Técnica Nacional, de 1951 a 1960; membro do Conselho Técnico do Sindicato de Engenheiros, em 1962; do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura, a partir de 1946, tendo sido reeleito cinco vezes até a sua morte; membro do Conselho de Administração do Programa de Expansão.do Ensino Tecnológico (Protec) por Decreto do Presidente da República, em 1964; fundador, coordenador e responsável pelo Curso de Engenharia de Operação na Escola Técnica Federal da Guanabara - em convênio com a Escola Nacional de Engenharia e a Fundação Ford. Dirigiu, por quatro vezes, a Escola Técnica Federal, que hoje ostenta seu nome: a primeira de 1943 a 1951, quando, depois de extinta a antiga Escola Normal de Artes e ofícios Wenceslau Brás e demolidas as suas construções originais com a Reforma Capanema, implantou-se a Lei Orgânica do Ensino Industrial (Decreto-Lei 4.073 de 30/ 1/1942), e aquela Escola reabriu em novas instalações, com o nome de Escola Técnica Federal. A sua segunda gestão foi por eleição do Corpo Docente da Escola em 1960; a terceira, no período de 1963 a 1966, pelos membros do Conselho de Representantes, e, finalmente, reeleito pelo mesmo Conselho para o período de 1966 a 1969, com mandato interrompido pelo seu falecimento em 1966, quando vlajava pelos Estados unidos em missão profissional, a convite da Fundação Ford. Em 13 de março de 1967 (Decreto-Lei 181, de 17/2/1967), a Escola Técnica Federal recebeu o nome de Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca, atual Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), conforme a Lei 6.545, de 30/ 6/1978.
Foram-lhe outorgados os seguintes títulos honoríficos: Diploma de Serviços Relevantes Prestados ao País e Diploma de Amigos dos Livros, dados pela Associação Brasileira do Livro, em 1964; Medalha do Mérito de Engenharia e Arquitetura; Medalha Marechal Hermes, conferida pelo Exército; Medalha Anchieta, conferida pela Secretaria-Geral de Educação e Cultura da antiga Prefeitura do Distrito Federal; Crachá da Escola Superior de Guerra, Grau de Oficial post mortem da Ordem Nacional do Mérito Educativo, conferido pelo Ministério de Educação e Cultura, em 1993 Celso Suckow da Fonseca fez parte de um tempo em que um grupo pioneiro de engenheiros, como Francisco Montojos, João Luderitz, Ítalo Bologna, Roberto Mange, atuando nas estradas de ferro, nas indústrias e nas escolas proflssionais e técnicas, viam a preparação de mãode-obra qualificada para a indústria como uma questão prioritária do ponto de vista econômico e educacional. O quadro político-econômico principal da sua atuação, em um primeiro momento, foi a industrialização do eixo São Paulo-Rio de Janeiro, promovida pelo Governo Vargas, no Governo Provisório iniciado com a Revolução de 1930 e, depois, com a ditadura do Estado Novo e a inserção do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Em um segundo momento, sem que este ramo do ensino sofresse solução de contínuidade, ao contrário, adaptando-se e expandindo-se de acordo com as políticas governamentais, implantou-se a política de desenvolvimento econômico do Governo Kubitscheck e a expansão capitalista, intensifícada pela internacionalização da economia, iniciada com a Ditadura Militar, a partir de 1964.
A obra desses engenheiros-educadores, ativos construtores de uma nacionalidade que se pretendia racional, civilizada e industrial, conviveu com a ambiguidade de uma cultura técnica supostamente neutra, isenta de elementos políticos-ideológicos. Integrou-se à ruptura ocorrida no sistema democrático representativo e ao privilégio das políticas de preparação de mão de obra para a indústria, a agroindústria, a ciência e a tecnologia, tendo o autoritarismo e a repressão política como pano de fundo para toda a sociedade. Ainda do ponto de vista político, não obstante o interesse das suas iniciativas para os fins a que se destinavam - a necessária preparação de mão de obra, a sua política passou ao largo das necessidades educativas da grande massa de trabalhadores analfabetos, do baixo nível de escolaridade da população e das novas condições de vida e de trabalho.
Alguns artigos publicados por Suckow relacionaram-se à sua prática como Diretor da cola Técnica. Embora participante da primeira turma de professores que fez o Curso de Administração de Escolas Técnicas nos Estados Unidos (1947-1948), ele não se deteve na análise dos teóricos da educação americana. Teve sempre como referência a sua prática como administrador escolar. Segundo o autor, os conceitos de orientação vocacional e de orientação profissional eram fáceis de definir e difíceis de realizar (Fonseca, 1948, p.34). Propondo uma filosofia da disciplina, procurou, em primeiro lugar, defini-la, criticá-la e estabelecer conclusões; em segundo lugar, estabeleceu métodos de aplicação, isto é, o modo pelo qual podiam ser utilizadas as noções de disciplina. A disciplina seria a base da ordem, e, sem ordem, não haveria progresso - transparecia a filosofia positivista que foi um dos fundamentos do ensino profissional e técnico no País. No entanto, era fundamental que o educador inspirasse respeito e afeto nos educandos (Fonseca, 1948, p. 82). Como bom administrador, preocupava-se com os baixos salários dos professores, principalmente os das oficinas da Escola Técnica Nacional, e com a concorrência das indústrias, da própria Prefeitura Municipal e do Colégio Pedro II (Fonseca, 1947-1948).
Celso Suckow da Fonseca publicou a sua obra de maior vulto, A história do ensino industrial no Brasil, em dois volumes, respectivamente, em 1961 e em 1962, pela Escola Técnica Federal. O trabalho recebeu uma segunda publicação em cinco volumes, em 1986, pelo Senai. Além de apresentar um registro da evolução histórica do ensino industrial, abordou a sua filosofia, identificando exemplos do ensino técnico em várias épocas, desde a Antigüidade. O objetivo do autor foi estabelecer relações entre a aprendizagem de ofícios e os processos de educação, mais especificamente, entre o ensino técnico e o ensino intelectual.
Suckow identificou duas etapas da história da transmissão dos conhecimentos proflssionais: o período anterior ao século XVI, quando a transntissão dos conhecimentos profissionais situava-se fora das escolas, estando as profissões manuais e os estudos intelectuais desvinculados; e, a partir dos séculos XVI e XVII, quando surgiram iniciativas de unir as ope~ rações manuais de ensino ao aprendizado intelectual.
0 Primeiro volume cobriu as iniciativas educacionais desde o Descobrimento: o ensino de ofícios a índios e escravos, os antigos centros de aprendizagem e os Arsenais de Marlnha, as açôes assistenciais do Governo Imperial através da preparação para o trabalho de órfãos e desvalidos e as primeiras providências da República, sendo a mais importante delas a criação da rede das Escolas de Aprendizes Artífices pelo Presidente Nilo Peçanha,
O segundo volume tratou das conseqüências da Lei Orgânica para o Ensino Industrial, da extinção da rede das antigas escolas de aprendizes artífices, do acordo entre o Brasil e os Estados Unidos, do qual resultou a Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (CBAI), com um extenso programa de cooperação (1946 a 1961 ) e as novas bases de organização do ensino industrial a partir do modelo implantado na Escola Técnica Nacional. O autor retomou ainda o histórico da aprendizagem de ofícios nos Arsenais do Exército, desde o Império, e da Marinha, a partir da Colônia, bem como a organização das Companhias de Aprendizes Menores e de Operários Militares. Outra imbricação importante do Estado à economia nacional e à preparação para o trabalho foi a ação das ferrovias do eixo São Paulo-Rio, suas experiências de ensino, seleção e orientação profissional, assim como a criação de escolas em cooperação com o Senai, também criado em 1942 e dirigido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O terceiro volume retomou os temas do Senai e da CBAI, recuperou seus métodos de ensino, a formação de professores mais adequada às necessidades das escolas industriais, o trabalho de crianças e a introdução do trabalho na educação. Por último, buscou analisar o ensino de ofícios na perspectiva de uma formação humana, social e econômica, considerando a sua capacidade de influenciar a harmonia social do País, a miscigenação das classes, o equilíbrio das massas e uma melhor compreensão na sociedade. Defendeu não somente a instrução profissional, mas a educação no seu sentido mais amplo, como elemento de aproximação entre as classes e as recomendou aos governos verdadeiramente democráticos.
Os volumes 4 e 5 trataram, especificamente, em cada Estado do Brasil, do ensino de ofícios, desde a sua origem até o ano de 1960, com as principais transformações aí registradas.
Como alerta, no início de seu trabalho, Suckow buscou narrar a história do ensino industrial de maneira metódica e de acordo com a documentação existente. Sendo ele próprio um dos atores mais importantes desse processo, estando no centro dos acontecimentos na sua fase mais dinâmica, a partir dos anos 30, o autor revelou notável domínio das informações, expondo a sua visão dos fatos de forma direta e clara. Como explicou, o trabalho produto de uma pesquisa de mais de dez anos, após um sem número de consultas à Biblioteca Nacional, à ex-Biblioteca Municipal, ao Arquivo Nacional, à Biblioteca da Câmara dos Deputados, a Ministérios, à extinta Câmara dos Vereadores do antigo Distrito Federal, assim como às Câmaras, Secretarias de Educação, autoridades educacionais civis e militares dos estados, visitas às escolas, cartas de pedidos de esclarecimentos, entrevistas com antigos professores e dirigentes, leitura de relatórios e de material bibliográfico. Além de cuidadosa cronologia ao final de cada capítulo, a obra traz, em anexo, a transcrição de muitas leis, decretos, regulamentos, regimentos, instruções e gráficos com dados estatísticos.
Seu trabalho pode ser situado dentro do paradigma da história tradicional, segundo o qual a história diz respeito, essencialmente, à política; é uma narrativa de acontecimentos; oferece uma visão de cima, concentrada na ação dos grandes homens; baseia-se em documentos, entendidos como registros oficiais, emanados do Governo e preservados em artigos; apóia-se em um modelo de explicação causal; é objetivo, sendo tarefa do historiador apresentar aos leitores os fatos, dizer “como eles realmente aconteceram” (Burke, 1992, p. 7-37). Não obstante os limites dessa visão historiográfica, a sua obra representa um notável esforço de registro da memória histórica da origem e da evolução do ensino industrial. A sua leitura é imprescindível para os que se dedicam ao tema.
Remetendo ao contexto nacional, Suckow aplicou seu modelo de história ao período colonial, em busca de um quadro do ensino técnico. Passando pelos colonizadores portugueses e pelos jesuítas, o autor delineou uma história do ensino técnico, em que não há método nem orientação prévia. O autor identificou como tipo de cultura dessa época aquela voltada para a “especulação intelectual e para o amor às letras" (cultura humanística), responsável pela difusão de uma "filosofia de desprezo pelo ensino de ofícios". Esta vsão negativa do trabalho manual foi criticada pelo autor, que a considerava responsável pelo atraso do País e que perdurou até a época republicana.
Celso Suckow criticou a “solução aristocrática do Império”, que procurou resolver o problema da instruçao através da formação de uma elite economicamente elevada, em rude contraste com a grande massa de analfabetos.
Esse projeto terla contribuído para dar força ao secular desprezo pelo trabalho executado com as mãos e, conseqüentemente, pelo ensino que a ele fosse destinado. Lembrou que, durante o Império, a aprendizagem profissional se realizara nos asilos, orfanatos e arsenais, assim como nas Casas de Educandos Artífices, destinadas aos deserdados da fortuna. Foi nesse tipo de estabelecimento que o ensino de ofícios se uniu às matérias de cultura geral, entrando para o conjunto da instrução como uma atividade vergonhosa. Por muito tempo, os relatórios das Provincias não incluíam o ensino de offcios, que era considerado de ordem assistencial e não educacionai; ao ser incluído na instrução pública, situou-se no grau elementar, abaixo do primário, como uma atividade "deprimente e desmoralizante". A abolição da escravatura e o aparecimento do trabalhador livre teriam contribuído para a emergência de uma nova filosofia do ensino profissional, favorecendo o trabalho manual e as atividades próprias da indústria. O Liceu de Artes e Oticios do Rio de Janeiro, em 1858, depois disseminado na República por todos os Estados, em 1909, apesar de ainda estar preso às antigas fórmulas assistenclais, teria aberto caminho para um novo modo de encarar essa forma de ensino como necessária à indústria (Fonseca, v. 3, 1986, p. 187-91). A transformação dos liceus já no final dos anos 10 e, depois, a partir do Início das atividades da Escola Técnica Nacional em 1943, tendo Suckow como seu primeiro Diretor, colocou a sua pedagogia e organização com base no trabalho industrial como modelo para a rede de escolas em todo o País. Engenheiro e homem de ação, a sua vida e a sua obra educacional foram marcadas profundamente pela valorização do trabalho e do ensino para o desenvolvimento industrial.
Entre os trabalhos publicados pelo educador, destacam-se: Fonseca, Celso Suckow da. História do ensino industrial no Brasil. Rio de Janeiro: Senai, Departamento Nacional, Divisão de Pesquisas, Estudos e Avaliação, 1986.
5 v. (I. ed., 1961/1962, 2 v., publicados pela Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro). _______Orientação educacional e orientação profissional. Boletim da CBAI, Rio de Janeiro, v. II, n. 3, p.
34-36, mar. 1948. ________ Disciplina escolar. Boletim da CBAI, Rio de Janeiro, v. lI, n.6, p. 82-84, jun. 1948. _______ Exposição de trabalhos dos alunos da Escola Técnica Nacional. Boletim da CBAI, Rio de Janeiro, v.
lI, n. 1, p. 9-10, jan. 1947. _________ Introdução. Relatório. Escola Técnica Nacional. Rio de Janeiro: MEC. Diretoria do Ensino Industrial, 1947-1948.
REFERÊNClAS BIBLIOGRÁFICAS:
BURKE, Peter (org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Panlo: Unesp, Centro Federai de Ensino Técnico (Cfet), 1992. Celso Suckow da Fonseca. Homenagem da Escola a seu Patrono. Rio de Janeiro: Cefet, 1967. DIAS, Demosthenes de Oliveira. Estudo documentário e histórico sobre a
Escola Técnica Federal "Celso Suckow da Fonseca”. Rio de Janeiro: Cefet, 1980. FONSECA, Celso S. da. História do ensino industrial no Brasil. Rio de Janeiro: Senai/DN, 1986. 5v.
Além dessas fontes, procurou-se para obtenção de outros dados: Biblioteca Nacional, Arquivo do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Núcleo de Estudos, Documentação e Dados sobre Trabalho e Educação (Neddate) do
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF), documentos do acervo pessoal de Luiz Carlos Bulhões Carvalho da Fonseca; CARLOS, Lasinha Luís. Celso: um homem. Moral e cívica -problemas brasileiros, Escola Técnica Federal Celso Suckow da Fonseca. Rio de Janeiro, v. lI, n. 4, p. 6-7, 1972. CENTRO FEDERAL DE ENSINO TÉCNCO (Cefet). Celso Suckow da Fonseca. Homenagem da Escola a seu Patrono. Rio de Janeiro: Cefet, 1967. ESCOLA TÉCNICA FEDERAL CELSO SUCKOW DA FONSECA. Este nos deu o exemplo. Moral e cívica - Problemas brasileiros, Rio de Janeiro. v.II, n.4, p. 5-6, 1972; CEFET. Um pouco de nossa história. Informativo, Rio de Janeiro: Cefet Informativo I, n.2, p.2, jun.de 1983.
MARIA ClAVATTA FRANCO E REBECA GONTIJ0
EUVALDO LODI
Nasceu em Ouro Preto, então capital de Minas Gerais, no dia 9 de março de 1896, filho do casal de imigrantes italianos, Luigi Lodi e Anunciata Lodi. Em 1898, mudou-se, juntamente com a família, para Belo Horizonte, um ano após a transferência da capital de Minas Gerais para essa cidade. Apesar de existir na capital mineira uma escola própria para receber filhos de imigrantes italianos, seus pais optaram por matricular Euvaldo Lodi e os demais irmãos em uma escola brasileira, o Ginásio Mineiro. Depois de concluir os estudos nesse Ginásio, Lodi retornou a Ouro Preto, ingressando na Escola de Minas e Metalurgia.
Formou-se engenheiro em 1920 e, em seguida, integrou-se à Companhia de Mineração e Siderurgia do Gandarela, de propriedade de Henrique Lage, onde trabalhou na área de civil e minas, assumindo, no ano seguinte, as funções de Diretor-Presidente e Consultor da firma Lage & Irmãos, chegando a atuar na Companhia de Navegação Costeira do mesmo grupo, sediada no Rio de Janeiro.
Em 1923, tornou-se membro da Comissão Nacional de Siderurgia, onde levantou ocorrências de carvão, minério de ferro e manganês nos Estados de Santa Catarina e Parará, a fim de verificar a viabilidade da instalação de uma grande usina siderúrgica no País. Dentre as atividades por ele desenvolvidas no Estado de Minas Gerais, figuram a construção de rodovias e ferrovias, a exploração de minas de ferro e carvão e a instalação de fornos metalúrgicos. Sua experiência e dinamismo empresarial lhe valeram o cargo de Presidente do Centro Industrial de Juiz de Fora.
Entre 1924-1925 foi colaborador do Jornal carioca O Imparcial onde escreveu matérias ligadas a temas de seu conhecimento, como geologia, legislação de minas, estradas de ferro, tarifas aduaneiras e problemas gerais da indústria e da agricultura.
Euvaldo Lodi participou dos protestos políticos que culminaram com a Revolução de 30, ingressando, posteriormente, no Clube 3 de Outubro. Esta organização nacional tinha como objetivo orientar as mudanças de âmbito econômico, social e político a serem implementadas pelo novo Governo. Opondo-se à política tarifária do Governo então adotada, Euvaldo Lodi participou de uma comissão formada por vários órgãos filiados ao Centro Industrial do Brasil (CIB), apresentando ao Chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas, e ao Ministro da Fazenda, José Maria Whitaker, uma síntese das opiniões dos representantes da lavoura e do comércio importador.
Transferindo-se para o Rio de Janeiro, então Distrito Federai, durante o período 1931-1936, Euvaldo Lodi foi membro do conselho diretor da Federação Industrial do Rio de Janeiro (Firj), entidade cuja função principal era contemplar as condições postas pela renovação política decorrente da Revolução de 30, buscando promover a adaptação da organização patronal às exigências da nova legislação sindicai em vigor. Ainda nesse período, integrou a comissão de coordenação do ClB, juntamente com Horácio Lafer e Vicente Galiez, contribuindo para a organização de sindicatos patronais e a criação de associações de industriais em todo o País.
Em 1932, Euvaldo Lodi representou a Federação das Indústrias de Minas Gerais na nova Comissão Revisora de Tarifas, atuando com Vicente Galiez, Otávio Pupo Nogueira e Válter James Gosling. No ano seguinte, tornou-se um dos fundadores da Confederação Industrial do Brasil e, também, o Quarto Vice-Presidente da primeira diretoria desta Confederação. O esforço em prol da organização de sindicatos patronais ligados à indústria visava responder a uma determinação da Assembléia Nacional Constituinte que se reuniria a partir de novembro de 1933, cuja composição incluía, além dos eleitos pelo sufrágio universal, representantes classistas indicados pelos sindicatos legalmente reconhecidos. Na Convenção dos Sindicatos Patronais, realizada em julho do mesmo ano, no Rio de Janeiro, Lodi participou como Delegado do Sindicato das Indústrias de Ferro de Minas Gerais, logrando ser eleito um dos 17 representantes dos empregadores à Assembléia Constituinte. Na Constituinte, Euvaldo Lodi atuou como líder da bancada dos empregadores, compondo também a chamada Comissão dos 26, encarregada de elaborar o anteprojeto da Constituição, ficando sob sua responsabilidade a redação dos capítulos intitulados "Ordem econômica e social" , "Família" e "Educação e cultura" do anteprojeto.
Após a promulgação da Constituição de 1934, Euvaldo Lodi foi escolhido por Vargas para integrar o recém-criado Conselho Federal de Comércio Exterior (CFCE), cuja função era colaborar na definição da política econômica do Governo. Após a posse, em 3 de maio, Lodi assumiu o cargo de Segundo Vice-Presidente da Câmara e membro da comissão de Finanças, dedicando especial atenção a questões relacionadas com a legislação social e de minas, águas, energia hidráulica e apoio à indústria nacional. O cargo assumido não impediu que Lodi concorresse à renovação de seu mandato, sendo eleito Deputado Federal, em janeiro de 1935. Seu mandato parlamentar na Cãmara dos Deputados foi suspenso em 10 de novembro de 1937, em decorrência da dissolução do Legislativo, determinada pela implantação do Estado Novo. Concentrando.se no exercício da liderança empresarial, Lodi assumiu, em seguida, o cargo de Segundo Vice-Presidente da Confederação Industrial do Brasil, durante a gestão de Roberto Simonsen. Nessa época, iniciou-se o enquadramento da entidade na lei sobre sindicalização, que apesar de apoiada por Lodi, encontrou fortes resistências entre os empregadores.
Entre 1938 e 1940, Lodi acumulou as Presidências da Firj (que em 1939 passou a chamar-se Centro Industrial do Rio de Janeiro), da Federação dos Sindicatos Industriais do (então) Distrito Federal (que tomou o nome da antiga Firj) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entidade recém-criada com a participação das federações industriais de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Com as mudanças ocorridas no País após a Primeira Guerra Mundial, a indústria brasileira viu-se forçada a produzir mais e diversificar a sua produção em decorrência da interrupção do fluxo de importação de produtos industriais. Também como conseqüência da Guerra, o fluxo de vinda de operários especialízados e de técnicos europeus para o Brasil tornou-se mais irregular. Tais mudanças mobilizaram os empresários da indústria a negociar com o Governo medidas concretas que garantissem o desenvolvimento da indústria nacional. Como diretor da CNI e assessor do Governo Vargas, Euvaldo Lodi, passou a integrar o Conselho Consultivo da CoordenaCão de Mobilização Econômica, órgão criado depois do ingresso do Brasil na Segunda Guerra Mundial, visando promover a mobilização dos recursos econômicos nacionais, a fim de orientar a intervenção governamental na economia.
Neste mesmo ano, Lodi compôs uma Comissão encarregada de estudar a criação de um organismo destinado a promover o ensino profissional requerido pelos estabelecimentos fabris. Constituída em 1941, a Comissão contou com a participação de Valentim Bouças e Roberto Simonsen, este último, Presidente da Federação das Indústrias de São Paulo. De acordo com proposta apresentada pelo empresariado paulista, o fortalecimento do ensino especializado seria alcançado "... mediante a cooperação da indústria, tomando a si o encargo do preparo de um terço dos técnicos, mestres e artífices, além do aperfeiçoamento de novos e antigos manipuladores". Segundo a previsão dos mesmos, à medida em que aumentassem o aparelhamento material e o aperfeiçoamento do operariado, a indústria passaria a necessitar de menor contingente operacional de mão-de-obra, bastando a previsão da formação de quinze por cento sobre o total dos operários especializados, supondo-se que as vagas por morte ou aposentadoria seriam preenchidas pelo melhor aparelhamento maquínico e pela maior eficiência do trabalho. Os trabalhos da referida Comissão desenvolveram-se sob a presidência do Ministro da Educação, Gustavo Capanema, e contaram com a colaboração do Diretor da Seção do Ensino Técnico do Ministério da Educação, Francisco Montojos, bem como dos especialistas em ensino industrial, Joaquim Faria de Góes Sobrinho, João Luderitz, Licério Schreiner e Rodolfo Fuchs. Entre os empresários, merece destaque a atuação de Roberto Mange, mentor do Centro Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional de São Paulo (Cfesp), órgão que supervisionava a formaçao nas estradas de Ferro Sorocabana, do Estado de São Paulo. Em setembro de 1941, a Comissão apresentou ao Governo um documento no qual propunha a fundação de um serviço de ensino profissional na forma de uma organização autônoma, dirigida pelas federações industriais e sob controle da CNI. Em 22 de janeiro do ano seguinte, foi sancionado o Decreto-Lei 4.048 que criou o Serviço Nacional de Aprendizagem dos Industriários, mais tarde Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), do qual Lodi tornou-se Presidente.
As atividades que envolveram a formulação do projeto de criação do Senai determinaram intensos estudos sobre a realidade industrial brasileira, de um lado, e, de outro, sobre os modelos disponíveis para promover a organiização das escolas ou centros de aprendizagem industrial. O relato de Euvaldo Lodi sobre esse processo ilustra bem a conduta do grupo, segundo ele, "impulsionada por alvos bem definidos". De acordo com suas próprias palavras, ele e seu grupo estudaram, em 1942 e 1943, a fisionomia de cada um dos núdeos industriais do Brasil, alinhando dados relativos à mão-de-obra e ao desenvolvimento da produção, porém, "nao a (produção dos tempos) da guerra, mas a que se tornaria normal nos anos de paz e de crise subseqüentes; ouvindo, também, os patrões experientes e os técnicos brasileiros e estrangeiros"(apud Mourão, 1992, p.168).
A Lei determinou que o Senai fosse dírigido CNI, sendo mantido pela contribuição dos estabelecimentos industriais a ela filiados. Dois outros decretos complementaram a regulamentação da matéria: o primeiro deles, o Decreto-Lei 4.481 de 16 de julho de 1942, determinava que as empresas mantivessem entre seus empregados 8% de menores ou aprendizes do total de empregados e os matriculassem em escolas mantidas pelo Senai (dando prioridade aos filhos, inclusive os órfãos e irmãos, de seus empregados). O mesmo decreto criou dois tipos de escolas: as estabelecidas nas próprias empresas e as mantidas pelo sistema oficial de ensino. O segundo Decreto-Lei (4.436), sancionado em 7 de novembro de 1942, determinava que sua rede de escolas profissionais atingisse também o setor de transportes, comunicações e pesca. Exigia, ainda, que essas escolas passassem a ministrar, além dos cursos de aprendizagem, o ensino continuado, de aperfeiçoamento e especialização.
Tomando-se um dos pioneiros do ensino profissionalizznte no Brasil, Euvaldo Lodi assim definiu a função social que ele esperava ver cumprida com a criação do Senai:
Com efeito, não há meio mais fecundo de progresso social do trabalhador do que a educação, particularmente a educação técnica acessível, para as crianças, até os mais aros graus, tal como o Senai programou e já executa, através inclusive do seu sistema de bolsas. Teremos contramestres e Operários peritos, onde só haveria operários comuns; teremos técnicos graduados, onde só haveria operários mais hábeis e mestres de oficinas. Assim, os altos postos da técnica, da direção e do capital estarão mais acessíveis ao trabalhador humilde, ampliando-se o processo espontâaeo que, sobretudo num País novo, elevou e eleva a muitos de nós de condições do anonimato e da pobreza a elevadas posições como empreendedores e capitalistas (Apud Mourão, 1992, p.165)
Em julho de 1943, tornou-se membro fundador e Vice-Presidente da Legião Brasileira de Assistência, presidindo no ano seguinte, o Congresso Brasileiro da Indústria, promovido pela CNI e organizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). No segundo semestre de 1935, integrou uma comissão do Conselho Nacional de Política Industrial e Comercial (CNPIC), órgão do Ministério do Trabalho, que apresentou um projeto de planificação da economia brasileira, rejeitado pela Comissão de Planejamento Econômico, cujo relator, o economista Eugênio Gudim, era partidário do liberalismo econômico e, portanto, contrário aos argumentos apresentados por Lodi e Simonsen.
Em novembro de 1944, Euvaldo Lodi e João Daudt d'Oliveira chefiaram a delegação brasileira à Conferência Econômica Internacional de Bretton Woods, nos Estados Unidos, que reuniu representantes de 44 países aliados para tratar da reorganização econômica e financeira mundial depois que se consumasse a vitória sobre os países do Eixo. Dentre os principais desdobramentos dessa conferência estão a formação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento. Em 1945, Lodi representou o Brasil na Conferênda de Paz, realizada em Paris, seguindo depois para Washington na qualidade de delegado à IV Reunião de Consulta dos Chanceleres Americanos.
Em Junho de 1946, o Presidente Eurico Gaspar Dutra sacramentou a criação do Serviço Social da Indústria (Sesi), do qual Euvaldo Lodi foi fundador e Diretor-Geral. Estruturado como
entidade de direito privado, mantido por contribulção espontanea dos próprios industriais, fixada em 2% do valor de suas folhas de pagamento, o Sesi foi concebido como um órgão de caráter complementar ao trabalho desenvolvtdo pelo Senai. Sua função precípua era atuar nos problemas sociais que atingiam os trabalhadores brasileiros. De acordo com Lodi, o Sesi exercia também missão pedagógica e educacional, visando atender a um duplo objetivo: "o aumento da produção e a valorização do homem".
Após a queda do Estado Novo, Euvaldo Lodi elegeu-se Deputado Federal por Minas Gerais, na legenda do Partido Social Democrático (PSD), exercendo o mandato a partir de janeiro de 1947. Dessa data até o final de seu mandato, em 1951, Lodi participou das comissões de Segurança Nacional e de Legislação Social da Câmara. Em 1948, atuou, mais uma vez, como representante dos empregadores na Comissão de Enquadramento Sindical. Durante o período 1948-1949, foi Presidente da Comissão de Desenvolvimento Industrial da chamada Missão Abbink (Comissão Mista Brasileiro-Americana de Estudos Econômicos). Foi reeleito em 1951, desempenhando o segundo mandato como Deputado Federal pelo PSD até 1955, período no qual atuou na Comissão de Tomada de Contas. Ainda em 1951, por ocasião da Conferência Pan-Americana de Chanceleres, realizada em Washington, Lodi integrou a delegação brasileira no evento. No perfodo 1952-1954 voltou a representar os empregadores na Comissão de Enquadramento Sindicai, e em 1953 foi membro da Comissão de Bem-Estar Social.
Euvaldo Lodi foi membro e Presidente do Conselho Diretor da Escola de Ciências Políticas e Econômicas de São Paulo e da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas do Rio de Janeiro. Representou, ainda, a Indústria e o Comércio no Conselho Nacional de Similares (vinculado ao Ministério da Fazenda) e presidiu a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), órgão das Nações Unidas.
Iniciou seu terceiro mandato como Deputado Federal pela mesma legenda, em 1954, falecendo em 1956, vítima de um acidente automobilístico. Era casado com Alvarina Castro de Oliveira Lodi e teve três filhos: Myriam, Milton e Múcio.
Treze anos após o seu falecimento, em 29 de Janeiro de 1969, foi lnstitufdo o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), órgão ligado à CNI, ao Sesi e ao Senai, que recebeu o seu nome em reconhecimento à contribuição que prestou para o desenvolvimento de atividades ligadas à formação profissional e à qualificação do trabalhador da indústria. Atualmente, o IEL conta com o núcleo central que define as políticas e as diretrizes gerais e com núcleos regionais, filiados às Federações de Indústria nos diversos Estados brasileiros, e tem como objetivo promover a articulação entre empresas e o sistema educacional. Partindo do conceito de que a educação é base para se obter melhores níveis de competitívidade e produtividade, as ramificações regionais do IEL estabelecem parcerias com universidades e instituições de pesquisa, desenvolvendo ações tais como formação de empreendedores, apoio a programas de qualidade, informática industrial, design etc,
Euvaldo Lodi publicou A indústria e a econom/a nacional (1949). Escreveu diversas teses, artigos, folhetos e discursos parlamentares e pronunciou conferências sobre economia e desenvolvimemto da indústria nacional que foram reunidos e publicados no livro Discursos e conferências (1954).
Sua contribuição à educação brasileira, particularmente ao ensino técnico e profissional, está ligada à ativa liderança que exerceu, ao longo de sua vida, no meio empresarial e político brasileiro em prol da criação de condições propícias ao desenvolvimento industrial em particular e ao desenvolvimento econômico do País. Em seu pensamento, a relação entre educação, ensino profissional e desenvolvimento econômico nacional articula-se ao preceito de que a elevação da formação técnica e educacional apresenta-se como requisito para a elevação do padrão de vida do cidadão comum. Segundo suas próprias palavras…
Examinar, em seu conjunto ou isoladamente, o tríplice aspecto do fenômeno educadonal, ou seja, a filosofia, a didática e administração, é ao mesmo tempo um investimento e um consumo; no primeiro sentido, a capacitação do homem é uma das pedras angulares do desenvolvimento econômico; no segundo, é um dos elementos importantes do bem-estar, indispensável para a fruição plena da vida. (Apud Mourâo, 1992, p.165)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ABREU, Alzira; BELOCHI, Israel. Dicionário histórico-biográfico brasileiro (1930-1983). RIO DE JANEIRO: Forense Universitária, Cpdoc/Finep, 1984. CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Verbetes: Euvaldo Lodi, Senai, Sesi, CNI. LOPES, Stenio. Senai 50 anos: retrato de uma instituição brasileira, Editora da Universidade Federal da Paraíba, 1992. MOURÃO, Eliana. Euvaldo Lodi: fragmentos de memória. Senai - Minas Gerais, Projeto Memória Senai, Belo Horizonte, 1992.
http://www.ieldf.org.br/iel.html;
http://www.bahianet.com.br/fieb/IEL.HTML